sábado, 25 de dezembro de 2021

O SEGREDO DE ALI

 

Ali era o barbeiro real. Todos os meses, um carro chegava à sua casa para levá-lo ao palácio onde cortava o cabelo real ao rei.

Os amigos de Ali riam dele: 

— O rei deve ser generoso. Um bandulho grande é um sinal de prosperidade. 

Ali unia-se aos seus amigos no riso. Mas era um homem preocupado, porque o seu bandulho se tornava cada vez meirande.

A sua mulher levou-o para um médico que fez a Ali uma revisão completa. 

 Não gosto desta barriga. É grande demais —disse o doutor, a mexer na cabeça.

— Por que está a medrar daquela? perguntou a mulher de Ali.

— É porque Ali tem um segredo na sua cabeça explicou o doutor. Isso afetou a sua barriga.

— Se contar o segredo a outra pessoa, reduzirá a pressão sobre a sua barriga disse o doutor.

Depois de voltar à casa, a mulher quería saber o segredo de Ali. 

— Não posso dizê-lo disse Ali, a olhar para ela todo impotente—. Prometi que não o diria a ninguém, nem sequer à minha mulher.

A mulher estava agora preocupada. O seu marido cumpria a sua promesa, mas o bandulho continuava a medrar. Ela tinha medo que nesse ritmo simplesmente estoupasse algum dia!

— Faz uma cousa disse a mulher. Não digas o segredo a ninguém, nem sequer a mim. Vai a um sítio solitário, tem certeza de que não esteja ninguén e conta o segredo. Uma vez que o segredo estiver fora da tua mente, a tua barriga encolherá.

Ali gostou da ideia. Saiu de madrugada da casa e foi para os arredores da cidade. Olhou à esquerda e à direita. Não havia ninguém por ali. Mas queria ter cuidado. Viu uma enorme árvore com um grande burato. O seu rosto iluminou. Meteu a cabeça no oco da árvore e berrou algo forte. Sentiu-se melhor. Berrou de novo. Sentiu-se melhor ainda. Berrou mais umha vez no oco da árvore. Sentiu-se leve na cabeça. O seu bandulho encolheu até ficar do tamanho normal.

Ali voltou à casa. A sua barriga estava ligeirinha. O segredo estava fora da sua mente, mas ainda era um segredo, do que ninguém sabia nada.

Ou isso pensava ele...

Anónimo

O REI QUE QUERIA PARAR O RIO

 

O rajá Mucha governava um pequeno reino à ourela dum rio. Um dia, da que dava um passeio pela beira do rio, não tendo mais nada para fazer, ficou a olhar o rio fluir em silêncio. Como as águas do rio, os seus pensamentos também fluiram contra o leste.

Mais para baixo, no rio, estava o reino vizinho do rajá Chota, o seu primo e rival. O fluxo do rio contra o reino vizinho fez com que o rajá Mucha se anojasse muito. Virou-se para o seu ministro e fez-lhe uma pergunta.

— Este río flui para o reino do rajá Chota?

O ministro, avezado às estranhas perguntas do rei, disse:

— Flui, meu senhor.

— Impede que este rio flua para baixo gritou o rajá Mucha. Não quero que o meu arquinimigo se aproveite do rio.

O rei era conhecido pelo seu temperamento e o ministro tinha medo de discutir com ele.

— Hei-tè dar vinte e quatro horas para deteres o rio disse-lhe o rajá Mucha mentres se afastava de ali.

O ministro mostrou-se cauteloso. Se se detivesse o rio, o rajá Chota contratacaria. Tinha um exército muito maior. O ministro tomou a decisão de evitar a guerra entre os dous vizinhos.

Nessa noite, mandou chamar pelo guardião do tempo do palácio. O seu trabalho era soar um gong a cada hora. O ministro deu instruções ao guardião do tempo para que soasse o gong a cada meia hora.

— Fá-lo tu mesmo, não nenhum dos teus serventes. E não fales disto com ninguém deu-lhe instruções o ministro.

Nessa noite, às nove horas, o rei foi-se deitar. Aginha adormeceu. Teve um sonho em que o seu primo, o rajá Chota, toleava e lhe turrava o cabelo porque o rio não entrara no seu reino.

Pouco depois, o rajá Mucha Raja escutou os sons do gong: um, dous, três, quatro, cinco, seis. Saltou da cama. Eram as 6 horas em ponto, hora de se erguer.

O rajá Mucha, como era o seu costume, olhou pela janela para fora. Para sua surpresa, estava bastante escuro! Imediatamente mandou chamar pelo ministro. 

— Por que ainda está escuro a esta hora? espetou-lhe o rajá Mucha.

— É porque o sol não entrou no nosso reino, maharajá disse o ministro.

— E logo, por quê? Todos os dias, quando dão as seis horas, o sol está no céu disse o rajá Mucha.

— Maharajá, o sol viaja de leste para oeste. O reino do rajá Chota fica ao leste do nosso reino. O sol chega primeiro ao seu reino e depois desce ao nosso reino explicou pacientemente o ministro.

— Por que não fez o sol assim hoje? perguntou o rajá Mucha sem muita paciência.

— Maharajá, o rajá Chota deveu impedir que o sol entrasse no nosso reino disse o ministro.

— Impossível! berrou o rajá Mucha.

— Maharajá, se podemos evitar que o rio flua para o seu reino disse o ministro, certamente, o rajá Chota possa evitar que o sol entre no nosso reino.

— Ceiva o rio gritou o rajá Mucha. Imediatamente!

— O teu desejo é a minha ordem, maharajá disse o ministro inclinando-se ante o rajá Mucha.

O rajá Mucha sentiu-se aliviado quando apareceu o sol cabo dum par de horas.

Naturalmente, o sol aparecera à súa hora habitual, mas o rajá Mucha nunca se inteirou do truque que fizera o ministro com a ajuda do guardião do tempo.

O ministro estava feliz de ter evitado uma guerra entre os dous reinos. E o rio continuou a fluir tranquilamente contra o leste.

© Anónimo