segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

O PAPAGAIO REAL

Duas irmãs moravam juntas, a uma muito boa e a outra malvada e preguiçosa. Cada uma tinha o seu quarto.

A maior e malvada começou a notar um barulho de asas e depois a fala de um homem no quarto da irmã. Ficou desconfiada e foi olhar pelo buraco da fechadura. Viu uma bacia cheia de água no meio do quarto.

Quando deu a meianoite, chegou à janela um papagaio enorme, muito bonito e voou para dentro, metendo-se na bacia, a buligar-se todo, a espalhar água para todos os lados.

Cada pinga de água virava ouro e o papagaio, quando saiu do banho, virou um lindo príncipe. Sentou ao lado da irmã menor e começaram a conversar como namorados. A irmã maior ficou morta de inveja.

No outro dia, de tarde, encheu a janela de pedaços de vidro, bem como a bacia. Durante a noite, o papagaio chegou e, encostando-se na janela, cortou-se todo. Voou para a bacia e cortou-se ainda mais. Arrastando-se, o papagaio não virou príncipe, mas chegou até à janela e disse à moça que estava assombrado pelo que acontecera:

— Ingrata! Dobraste-me os encantos! Se me queres ver, só será no reino de Acelois.

E, batendo asas, desapareceu.

A moça deu por si a chorar e se lastimar sem fim. Brigou com a irmã e deixou a casa, procurando o namorado pelo mundo. Ia caminhando, empregando-se como criada nas casas só para perguntar onde ficava o reino de Acelois. Ninguém sabia dizer-lhe e a moça ia ficando desanimada.

Uma noite, depois de muito viajar, já cansada, ficou com medo dos animais ferozes e subiu a uma árvore, escondendo-se bem nas folhas. Estava cheia de medo quando diversos bichos estranhos chegaram para baixo do pé de pau e começaram a conversar.

— De onde chegastes vós?

— Do reino da Lua!

— E vós?

— Do reino do Sol!

— E vós?

— Do reino dos Ventos!

A moça prestou atenção. No primeiro cantar dos galos sumiram todos, e ela desceu e continuou a marcha. Andou, andou, até que chegou a outro bosque e, para não ser devorada, agatunhou numa árvore. Ali riba, quando a noite ficou bem fechada, chegaram umas vozes ao pé do pau.

— De onde vides?

— Do reino da Estrela!

— De onde vides?

— Do reino de Acelois!

— Que novidades me trazeis?

— O príncipe está doente e ninguém sabe como o tratar…

Na madrugada seguinte, ela seguiu o mesmo rumo, pois as vozes já tratavam do reino de Acelois. Andou, andou, andou. Finalmente, quando anoiteceu, estava dentro de uma floresta. Subiu num pau e ficou quieta, ali riba. Mais tarde, as vozes começaram a falar:

— De onde vides vós?

— Do reino de Acelois!

— Como vai o príncipe?

— Vai mal, coitado, não tem remédio!

— Ora, não tem! Claro que tem! O remédio é beber três pingas de sangue do dedo meiminho de uma moça donzela que morresse pelos seus ossos!

Quando amaheceu, a moça botou a caminhar. Ia o sol sumindo quando ela avistou o reinado de Acelois. Entrou no reinado e pediu abrigo numa casa. Na hora da ceia, perguntou o que acontecía no reino e disseram que o assunto da terra era a doença do príncipe. A moça, no outro dia, mudou a roupa, foi ao palácio e pediu para falar com o rei.

— Rei Senhor! Atrevo-me a dizer que posso sanar o príncipe, se o Rei Senhor me der, assinado por Vós, a metade do vosso reino e de tudo quanto lhe pertencer.

O rei assinou a metade de tudo o que possuía. A moça foi para o quarto, colocou água num copo, furou o dedo meiminho, botou três pingas de sangue dentro, misturou e mandou-o beber. Assim que o príncipe engoliu, foi abrindo os olhos, erguendo-se da cama e abraçando a moça, com uma grande alegria.

O rei ficou muito satisfeito. Quando o príncipe disse que aquela era a sua verdadeira namorada desde o tempo em que ele estava encantado num papagaio real, o rei não quis dar consentimento, porque a moça não era princesa. A moça então falou:

— Rei Senhor! Tenho por Vós assinado que a metade de tudo quanto é do rei e senhor me pertence. O príncipe é do rei e senhor e eu tenho por minha a metade dele. Se o rei e senhor não quiser que eu case com ele inteiro, levarei para a casa uma parte.

Ao ouvir falar em cortar o príncipe pelo meio, como a um porco, o rei aceitou e deu o seu consentimento.

Foram três dias de festas e danças...

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